Levar a vida a sério

A maior parte de nós realmente vive assim, de acordo com um plano preordenado. Passamos a juventude recebendo educação. Achamos então um emprego e encontramos alguém com quem nos casamos e temos filhos. Compramos uma casa, tentamos ser bem-sucedidos em nosso negócio e lutamos por sonhos como os de possuir uma casa de campo ou um segundo carro. Saímos de férias com os amigos, Planejamos nossa aposentadoria. Os maiores dilemas com que muitos de nós nos defrontamos são onde vamos passar o próximo feriado ou quem convidaremos para o Natal.

Quantos de nós, como o homem da história, somos levados de roldão pelo que chamo de “preguiça ativa”? Naturalmente, há diferentes tipos de preguiça: a oriental e a ocidental. O estilo oriental é aquele praticado à perfeição na Índia. Consiste em ficar ao sol o dia todo, sem fazer nada, evitando todo o trabalho ou atividade útil, tomando xícaras de chá, ouvindo músicas de filmes hindus martelando no rádio e tagarelando com amigos. A ociosidade ocidental é muito diferente. Ela consiste em abarrotar nossa vida de atividades compulsivas, de modo que não sobre tempo para o confronto com os verdadeiros problemas.

Dizemos a nós mesmos que queremos empregar o tempo nas coisas importantes da vida, mas nunca temos esse tempo. Mesmo no simples levantar-se pela manhã, há tanto o que fazer: abrir a janela, fazer a cama, tomar banho, escovar os dentes, alimentar o cachorro ou o gato, lavar a louça da véspera, descobrir que o açúcar ou o café acabou, sair para comprá-lo, fazer o café da manhã – a lista é interminável. Aí há a roupa para arrumar, escolher, passar e dobrar de novo. E que dizer do cabelo ou da maquiagem? Incorrigíveis, vemos nossos dias se encherem de telefonemas e projetos, com tantas responsabilidades.

Levar a vida a sério não quer dizer passar a vida inteira meditando, como se vivêssemos nas montanhas  do Himalaia ou nos velhos dias do Tibete. No mundo moderno temos que trabalhar e ganhar nosso pão, mas não devemos nos enredar em uma existência rotineira onde vivemos sem noção do significado mais profundo da vida. Nossa tarefa é chegar num equilíbrio, encontrar um caminho do meio, aprender a não nos estendermos além do possível em atividades e preocupações irrelevantes, e simplificar mais e mais nossa vida. A chave para encontrar um equilíbrio feliz na vida moderna é a simplicidade.

O Livro Tibetano do Viver e do Morrer – Sogyal Rinpoche